Coreia do Norte faz “lavagem cerebral” anticristã na população, diz testemunha

Viver em um país controlado por uma ideologia ditatorial é difícil para qualquer cidadão, mas para os cristãos essa realidade parece ser ainda pior, tendo em vista o conceito de liberdade e respeito ao próximo ensinados pelo cristianismo, algo incompatível com o regime comunista da Coreia do Norte.


O sobrevivente Timothy Cho é mais uma testemunha viva dos horrores perpetrados pelo regime norte-coreano. Abandonado pelos pais desde criança, ele precisou viver nas ruas do país, sobrevivendo de misérias, até conseguir fugir para a China pela primeira vez, aos 17 anos.

Já no país vizinho, também controlado pelo comunismo, mas de forma menos rígida do que a Coreia do Norte, Cho acabou sendo acolhido por um missionário cristão local, que o levou para um abrigo. No entanto,  tudo o que ele sabia sobre os cristãos havia sido deturpado pelo regime norte-coreano.

“Na casa, eu vi um colar com uma cruz, uma Bíblia e crianças norte-coreanas. Para mim, um cordão com uma cruz pendurada era muito assustador. Eu acreditava que se tocasse por um instante naquela cruz, meu dedo apodreceria”, disse ele.

Isso, porque, segundo Cho, a população da Coreia do Norte, especialmente as crianças, sofrem lavagem cerebral constantemente, a fim de que enxerguem a doutrina cristã e os missionários como uma ameaça ao regime do país.

“Por causa da lavagem cerebral anticristianismo na Coreia do Norte, ao ver o colar com a cruz, eu pensei que o missionário era um traficante de pessoas e que as crianças que estavam lá tivessem sido sequestradas por ele. Pensei que ele iria me vender como escravo para o tráfico humano”, contou.

Prisão e tortura

Com medo, Cho acabou fugindo do abrigo e não durou muito nas ruas. Ele foi apanhado pelas autoridades chinesas e rapidamente deportado para a Coreia do Norte, onde acabou preso.

O jovem ficou numa cela com 50 pessoas, em condição extremamente precária. “Não tínhamos espaço suficiente. Nós tínhamos que nos apoiar nas costas uns dos outros”, disse ele durante entrevista para Guiame.

“O banheiro era ali mesmo, você não tinha nenhuma privacidade. Ninguém queria fazer contato visual um com o outro, o clima era de depressão, de medo. Nós recebíamos duas colheradas de macarrão por dia”.

Cho disse que foi torturado na prisão, antes de ganhar a libertação novamente. Ele resolveu fugir para a China pela segunda vez, onde se mostrou mais receptivo aos missionários. No entanto, o jovem acabou preso e indo parar numa prisão chinesa.

Encontro com Deus

Foi na prisão chinesa que Cho teve a oportunidade de receber um exemplar da Bíblia sagrada. Deus, como mostra a história, usou o improvável para alcança-lo, mostrando que não faz acepção de pessoas quando o assunto é a aparência.

“Eu chorava dia e noite. Então, um dos colegas de cela se aproximou. Ele era um gangster perigosíssimo na Coreia do Sul e seria deportado. Ele era enorme, forte e todo tatuado. Ele se aproximou de mim e me deu um exemplar da Bíblia que tinha escondido. E disse: ‘Leia isso’”.


“Eu pensei: ‘Esse é o cara mais louco que já conheci. Eu estou sendo enviado de volta para a Coreia do Norte, eu ia ser executado lá e esse cara me fala para ler a Bíblia?’. Eu nunca tinha lido a Bíblia antes”.

Cho levou em consideração os conselhos e passou a orar, bem como a ler a Palavra de Deus. Após algum tempo, uma denúncia acabou fazendo o governo chinês recuar da decisão de deportar os presos para a Coreia do Norte. Todos foram soltos, entre eles o jovem sobrevivente.

Cho foi para as Filipinas e depois foi parar na Inglaterra, onde foi acolhido pela organização Portas Abertas. Ele recebeu estudo, emprego e constituiu a sua vida, se tornando membro de uma igreja local.